domingo, 29 de julho de 2007

“O que é o amor?”


Acredito que todos já se perguntaram alguma vez na vida.
Quando somos jovens sonhamos com um amor ideal, um amor romântico. Muitas vezes passamos a viver em função desse amor.
Quando acreditamos encontrar alguém que poderá nos fazer feliz, projetamos as melhores qualidades nessa pessoa. Apaixonamos por uma imagem idealizada que nem sempre corresponde à realidade. Então, pode acontecer de irmos de encontro com ela.
Podemos sofrer desilusões, passar noites sem dormir, chorar com a solidão e sentir as piores dores. Acreditamos amar de verdade, quando tudo não passa de obsessão. A mais pura necessidade de alimentar o ego com a certeza de que somos amados.
Muitas vezes acreditamos que para nos sentir especiais é necessário ter uma pessoa que nos faça sentir especiais. Às vezes, é necessário estar só para percebermos nosso próprio valor, e assim não ser mais tão dependentes.
A verdade é que muitas vezes confundimos o amor com a necessidade de amar e ser amado, e com o apego, que se traduz no sentimento de posse e no desejo de controlar.
O texto do colunista Roberto Shinyashi, escritor e psiquiatra, que já esteve no Japão para dar palestra aos dekasseguis e autor do livro é Tudo ou Nada, nos inspira importantes reflexões sobre o amor verdadeiro. O mais importante é como o autor coloca que mesmo o amor entre um homem e uma mulher deve estar baseado no amor universal. Entendo esse amor como o sentimento que nos une ao universo e se estende a todos os seres, como o mais sublime desejo de que todos alcancem a libertação, a paz e a felicidade.
Shinyashi: o que é o amor?
Muita gente confunde possessividade, insegurança e ciúme com o amor. Na verdade esses sentimentos podem assemelhar-se ao amor, mas, em sua essência, negam a nossa profunda vocação na vida.
São como flores de plástico comparadas a uma flor verdadeira. Ambas têm em comum algumas características, mas possuem origens diferentes. As flores de plástico nascem do petróleo, ao passo que a flor verdadeira nasce do encontro entre a terra e a semente. A possessividade nasce do medo, ao passo que o amor nasce da própria vida à procura de celebração. O ciúme nasce da vontade de controlar o crescimento do outro, enquanto o amor nasce da generosidade que existe em nós.
Enquanto a insegurança nos transforma em mendigos, sempre pedindo, ou pior, cobrando algo do outro, o amor nos dá energia para doarmos o que somos à pessoa que nos estimula a amar.
Certamente cada um de nós, pelo menos uma vez na vida, já refletiu sobre o amor, fonte de luz, de energia vital que movimenta toda a humanidade. Comecemos, porém, nossa reflexão percebendo o que “não é amor”.
Amor não é cobrar por suas ações. Há uma confusão muito grande entre o amor verdadeiro e um produto similar chamado amor de troca, uma conduta usada como moeda para dar direito a cobrar determinados comportamentos dos companheiros. Exemplo típico é a eterna cobrança: “eu sempre cuidei de você, e agora que preciso não o tenho comigo”. Quando, numa relação, as pessoas se sentem amarguradas, convém refletir, pois o amor é uma energia que impulsiona para a vida. Quando estamos amando alguém, sentimo-nos vivos e em sintonia com o Universo.
Amar não é ficar parado, como um príncipe mimado, à espera de que o outro, pelo fato de estar sendo amado, se sinta um devedor do nosso sentimento.
O amor nos proporciona uma sensação de gratidão pela vida, o sentimento de termos sido abençoados pela dádiva divina.
Amar é fazer uma viagem fantástica e ao mesmo tempo que desfrutamos essa entrega, desvendamos os mistérios que ela nos apresenta a cada momento.
O amor é a força que nos leva a enfrentar todos os nossos medos, criados desde as primeiras experiências dolorosas de aproximação. Tornamo-nos corajosos e prontos a desafiar o tédio e o comodismo, a enfrentar o desafio do cotidiano. O amor proporciona-nos uma condição de aprendizes, concedendo-nos a suprema compreensão de que, quando somos conduzidos pelo amor, sempre realizamos algo significativo. No amor não estamos nos submetendo ao outro, e sim obedecendo às ordens da sabedoria que existe dentro de nós.
O amor é mais que o encontro de dois corpos, muito mais que a união física entre duas pessoas. É a própria consciência da existência: a crença nas forças divinas, que cuidam de todo o Universo e nos levam um ao outro com a mesma fluidez com que aproximam uma nuvem de uma montanha, que nos proporcionam uma força sobre-humana, que dão energia ao vento, ao mar e à chuva e que nos tornam grandes como pinheiros gigantescos.
No amor seguimos um caminho, realizamos uma história, cujo final só vamos conhecer plenamente quando a completarmos. Assim como a flor emana o seu perfume, o homem naturalmente exala o amor. Isso é tão inevitável quanto é impossível proibir a terra molhada de desprender seu cheiro.
Até mais!

Dafne Pires Pinto